OMT: a crise mudou o cenário do turismo

28/12/2010 19:34

 

O cenário da indústria do turismo em todo o mundo vem passando por significativas mudanças. Depois de ressaltar a importância do setor, que já representa 30% do total na balança de Serviços da economia mundial, o diretor executivo da Organização Mundial de Turismo, Márcio Favilla, confirma que a crise alterou as tendências de crescimento do turismo mundial beneficiando os países em desenvolvimento, que têm registrado neste ano de recuperação um desempenho melhor que o obtido pelos países ricos no que se refere à chegada de turistas internacionais. Para aumentar o fluxo internacional no Brasil, o executivo defende a implantação de programas de flexibilização dos vistos e o aumento do capital estrangeiro das companhias aéreas brasileiras. Veja entrevista:

M&E – Como você analisa as novas tendências do turismo mundial neste cenário de recuperação após a crise de 2008/2009?
Márcio Favilla - Dentro da tendência que temos observado podemos observar que em função da nova conjuntura econômica os países e regiões menos desenvolvidos têm obtido resultados mais expressivos do que os países mais ricos, onde o turismo representa 2% a 10% do PIB. O impacto da crise nestes países foi menor. O que se observa é que 2009 talvez tenha sido o pior ano da indústria do Turismo desde 1950 e isso em termos globais. Os sinais de recuperação tiveram início no quarto trimestre do ano passado. Esta tendência de crescimento vem se mantendo nesta trajetória de recuperação com um crescimento de 7% até agosto em comparação aos oito primeiros meses do ano no que se refere ao volume de turistas. Nas Américas esta tendência tem se mantido.

M&E – A OMT já tem uma previsão sobre os números dos principais destinos internacionais este ano?
Márcio Favilla -
 Os efeitos da crise tiveram um impacto maior no chamado turismo de negócios. O índice de confiança nas perspectivas desta indústria tem sido objeto de estudo da OMT e o fator que mais preocupa no momento este processo de recuperação é o do desemprego, que pode influir definitivamente nos índices. A previsão para este ano é de se ter um crescimento médio do turismo mundial de 6%, contra a queda registrada no ano passado de 4,5%. Já para 2011, a expectativa é de um crescimento médio de 5% no que se refere ao aumento no fluxo de visitantes internacionais. Na América do Norte, em 2009, a queda em relação a 2008 foi de 6%, mas o crescimento nos primeiros nove meses do ano foi de 9%. Já no Caribe a recuperação foi menor. Já na América do Sul, que havia registrado uma queda de 2% no auge da crise, este ano o crescimento até agosto foi de 7%. No cômputo geral a Ásia tem se destacado neste cenário de recuperação. O mesmo tem se dado com a África e o Oriente Médio, ao contrário da Europa, onde a recuperação tem sido bem mais lenta.

M&E – Quais fatores poderiam alterar estes prognósticos e mudar o cenário de recuperação?
Márcio Favilla - Existe um fator que inibe estas tendências de recuperação e merece uma atenção especial e diz respeito ao desemprego, que afeta diretamente a economia e consequentemente a indústria do turismo. O fantasma do desemprego é visto atualmente nos prognósticos da OMT como o principal fator que pode alterar as previsões otimistas de recuperação. Há outros fatores preocupantes como o das ameaças de atentados terroristas. Cada vez mais o processo de entrada de turistas em determinados países tem resultado em medidas preventivas a fim de evitar possíveis atentados. Isso é um fato preocupante e vejo que os procedimentos de segurança nos aeroportos dos Estados Unidos e da Europa são demorados e faltam equipamentos e gente suficiente para agilizar os procedimentos de alfândega do passageiro, que é obrigado a aguardar em longas filas e corre risco até de perder conexões.

M&E – E o Brasil como se situa neste cenário? Quais os impactos positivos e desafios num país que vai sediar dois mega eventos esportivos até 2016?
Márcio Favilla -
 A exposição do Brasil aumentou enormemente em função destes eventos e também do crescimento no setor e da estabilidade política e econômica. O país é visto com maior respeito no cenário internacional e esta divulgação espontânea de mídia junto com a estratégia de promoção realizada pela Embratur nos permite prever resultados promissores, sendo um deles o incremento no volume de turistas estrangeiros para os próximos anos. No último Barômetro da OMT, o Brasil já foi notícia em função da estratégia de promoção para a Copa do Mundo lançado em junho na África do Sul. Mas temos também desafios em função da conjuntura econômica. A valorização do Real frente ao Dólar encareceu o custo Brasil para o turista internacional. Outro aspecto preocupante são as incertezas dos principais países emissores para o nosso país, que teve um impacto nas viagens internacionais. Diante deste quadro, além da promoção, nós temos que melhorar também a qualidade do nosso turismo receptivo e isso passa pelos programas de capacitação e qualificação da mão de obra que atende direta ou indiretamente ao turista por meio dos serviços prestados.

M&E – Existem gargalos como a necessidade de investimentos em infraestrutura aeroportuária, mobilização urbana e qualificação da mão de obra. Como vê questões como estas?
Márcio Favilla -
 No que se refere ao turismo receptivo é preciso receber bem não apenas o turista estrangeiro mas também o brasileiro que está viajando cada vez mais. É preciso observar que o turismo interno vive um momento especial de expansão e isso gera impacto para a economia do país. Temos que nos preparar investindo na melhoria dos serviços. Também é preciso adotar medidas que estimulem o fluxo do turismo internacional porque gera divisas e traz novos recursos para a economia do país acarretando também na melhoria de qualidade de vida. Este processo pode ser acelerado com a adoção de uma série de medidas, entre elas os programas de flexibilização dos vistos e o aumento do capital estrangeiro das companhias aéreas brasileiras. Eu diria que todas as medidas consideradas facilitadores de viagens são importantes e bem vindas. O processo do visto deve ser revisto. Veja por exemplo países como a Austrália, onde a concessão de visto é feito pela internet. No Brasil já tivemos alguns avanços nesta área, como a ampliação no prazo de visto para os EUA de cinco para 10 anos, mas temos que continuar este processo de facilitação para estimular a vinda de turistas estrangeiros ao nosso país, seja em viagens a lazer ou a negócios.

M&E – Que aspectos você ressaltaria desde a criação do Ministério do Turismo e de que modo os novos governantes devem tratar esta indústria?
Márcio Favilla
 - Atualmente eu vejo que já existe um reconhecimento da importância desta indústria pelo seu impacto econômico e social. O fato de termos um ministério exclusivo para o Turismo já é por si um avanço considerável e possibilitou que os setores público e privado trabalhassem juntos nestes últimos oito anos não apenas para solucionar problemas, mas para executar um programa de coordenação e gestão. O turismo exige mais do que nunca uma parceria público-privada e é importante que ambos sejam atores fortes nesta parceria. Não pode haver um desequilíbrio. Vejo que o setor privado tem se fortalecido nos últimos anos e os resultados estão no aumento da receita e nos investimentos feitos, bem como o setor público tem se qualificado melhor tanto nas esferas federal, estaduais e municipais. Mas para trabalhar esta atividade, que é tão importante como fator gerador de emprego e pelo seu impacto na economia e no âmbito social, é preciso priorizar este setor e dar a esta indústria a importância que merece com medidas de incentivo, bem como possibilitar nesta parceria público-privada mais e mais investimentos.

Fonte: Site www.mercadoeeventos.com.br   -   Luiz Marcos Fernandes

 

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